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quinta-feira, 27 de maio de 2010

BICICLOTECA NA EXPEDICION DONDE MIRAS, TRECHO SÃO PAULO CANANÉIA

SANTOS



TRAVESSIA DA BALSA DE SANTOS PARA GUARUJÁ
MARESIAS
BOIÇUCANGA
UBATUBA

quinta-feira, 13 de maio de 2010

GILBERTO DIMENSTEIN FALA SOBRE A BICICLOTECA EM SEU BLOG

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:fRJoZszUeGMJ:tudosobreleitura.blogspot.com/2010/02/bicicloteca-gilberto-dimenstein.html+bicicloteca&cd=37&hl=pt-PT&ct=clnk&client=firefox-a

MATÉRIA DO ESTADÃO SOBRE A BICICLOTECA

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090906/not_imp430215,0.php

POEMA

Uma porção de vapor sobe alto, além das nuvens, lá faz frio, muito frio. O vaporzinho condensa, fica pesado e despenca. Despenca do céu mais alto, é uma pequena gota de cristal que cai veloz e explode no chão sem fazer barulho. Logo evapora no asfalto. A cidade prossegue, inabalada.
Um sem-número de fantasminhas de vapor dão as mãos e juntos enfrentam o frio, o frio muito frio dos altos céus. Lentamente vão tomando forma de gude, gude liquído e flutuante. Têm tanta energia que tragam raios da terra e fazem soar tambores elétricos. Então desatinam e rolando nos campos da gravidade avançam sobre o mundo, muitos tombam no solo, mas outros vem reforçar as fileiras da chuva. Logo a cidade inteira está sob ataque e não há resistência possível. Enchentes arrastam telhados velhos e guarda-chuvas opressores.

NO PONTO DE ÔNIBUS

O PODER DOS LIVROS

Marcus Vinícius

Fazia frio no Campo Limpo. O céu vestia branco e havia mais tristeza que de costume. Eu não emprestara nenhum livro naquele dia, as faces esperando os ônibus iam nubladas, as crianças passavam dormindo e as árvores estavam nuas mas onde estavam suas folhas secas? Já me levantava pra ir embora quando vi a senhora Irene fechando o portão de casa, ela veio caminhando toda encolhida, num passo lento, bem lento e apoiou as duas mãos na cesta de livros, pousava o olhar nas capas sem ler, respirava fundo e suspirava, seus olhinhos brilhavam tristonhos, quase escondidos na pele enrugada. Botou a mão em meu ombro e me sussurrou no ouvido – Meu marido morreu – desatou em lágrimas… Fiquei paralisado, minha alma fez silêncio, abracei-a, seu corpo era frágil e tremia, meu corpo era forte e também tremia, chorei, ela acariciava sem jeito minha nuca gelada. Fora casada por cinquenta anos, ao que poderia se apegar agora, perdera o companheiro de uma vida toda. Mas viera buscar um livro… Lhe ofereci um pequeno de contos ao que ela respondeu – Quero outro, maior, preciso viajar por um tempo – Mostrei o Balzac de quinhentas páginas, ela avaliou o volume, sorriu bem de leve e voltou pra casa no mesmo passo lento, bem lento. Eu garoava, me sentei novamente, havia compreendido tudo.

BICICLOTECA NO PROGRAMA DA OLGA BONGIOVANNI

BICICLOTECA NA III SEMANA CULTURAL DAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS DE PARAISÓPOLIS




BICICLOTECA NO SARAU DA VILA FUNDÃO- CAPÃO REDONDO

POESIA- MARCUS VINÍCIUS

E eu, no entanto, livro nas mãos
sentado no banco
viajo além do vai-vém
daqueles a quem o ponto é um pranto
que escorre porquanto o busão não vem

A pressa é um manto
cobrindo a visão dos homens
que de correr tanto
não vêem nem céu nem chão
Que dirá o livro em branco
que cada olhar manso têm

Todos, porém, que passem
e voltem depois do trampo
se seguem o cotidiano santo
que não perdoa ninguém
Mas vão levando entre os dedos
páginas mais de cem
Pois diante da letra impressa
os olhos, sem pressa, lêem
e muitos descrentes crêem
e os cegos do mundo vêem
na vida, tantos encantos
E mais que isso também
encontram o acalanto
que só o verso contém

Da língua brota o verbo
Faz-se verão no inverno
e vê-se um pouquinho além
daquele velho canto
que as serpentes proferem
sempre nos enganando

E eu, no entanto, livro nas mãos
sentado no banco
ouço a canção do tempo
e o momento em dissipação
é como uma oração
(Contemplo na condução
crianças lendo ávidamente
pasmem, estão contentes)
e as nuvens dizem amém

A sonda espacial
O porta-caças naval
ferindo a lua e o oceano
São meros brinquedos caducos
perto da bicicleta
Livreira celestial
Veículo dos poetas
Sondando no ponto de ônibus
O insólito sonho humano
A chama primordial

BICICLOTECA NA FEIRA DE ARTES DO SANTA TEREZA- EMBU




BICICLOTECA NA RUA

DESCONSTRUÇÃO

Da lotação, distante eu vejo um imenso prédio em formação, não enxergo através da névoa de fim de outono e para meus olhos o edifício ascende no céu como por mágica, hoje tem vinte andares, amanhã terá cem e depois mais quantos. Mas posso adivinhar os trabalhadores quando escuto as vigas de aço soarem como sinos sem fé sob os golpes de marreta, então penso nas estalactites de sal que o suor colocou no queixo desses homens, penso na pele de cal que levam apegada à pele parda e nas chispas azuis nos cabelos de arranhar os céus com a cabeça. Eles são as células vivas do corpo urbano que se multiplicam e enredam os tecidos da cidade e assentam a carne no osso e correm sangue na carne e tecem sobre tudo uma pele macia de gesso e azulejo. Mas quando concluem um corpo, que surge perfeito e jovem no horizonte, o câncer da ambição o cobiça, espreita suas entradas abertas e logo se instala, o câncer ocioso e invasivo vem num comboio de células destrutivas e expulsa os feiticeiros da pedra, proíbem as moléculas que se desdobraram em corpo de habitar-se. Os trabalhadores exaustos voltam pro longe com pouco plasma nos estômagos, falta alimento pro núcleo, terão de edificar outros ossos no vazio.

E se o vento descascar a tinta das paredes coloridas e as chuvas lavarem a massa corrida sobre o cimento e se a estação serena, sem motivo aparente, corroer as vigas de aço que escorrerão pelo prédio feito lava e as escadas se esticarem, degrau por degrau, numa rampa imensa subindo pra além das nuvens e os elevadores despencarem pra cima e pairarem – satélites – ao redor da terra e se de dentro das muralhas de cimento, que irão se desfazer em fragmentos, no íntimo do concreto rijo, lentamente desconstruído, encontrarmos coisas disformes, meio sólidas meio liquidas e também gasosas, feito âmbar, feito resina de tronco… O que serão esses antigos fósseis conservados nos muros, entre os tubos de água e os fios enérgicos, que mistério terão de indecifrável. E então quando os cientistas romperem a fina camada de cera que envolve essas bolhas com seus bisturis brilhantes, asas imensas que atravessam a matéria evadirão pelas fendas e numa revoada de luzes viajarão dos laboratórios em busca de seus donos… São o tempo, o suor, os sonhos e o esforço fossilizado dos obreiros que inventaram montanhas no vácuo, enxertando nelas a própria substância… Dos esqueletos de mil prédios, milhões de asas surgirão e num tornado de plumas voarão até seus senhores despidos, abrindo caminho entre os destroços e espanando o pó das ruas e os homens que a muito haviam sido privados do seu dom alado, terão de volta força e desejo, braço e tempo, pra construir-se mundo.



quarta-feira, 12 de maio de 2010